segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O assédio moral no trabalho - Resumo

Para aquelas pessoas que estão sofrendo por assédio moral ou por ventura venham a sofrer aqui tem um resumo muito bom.



O assédio moral no trabalho


O assédio  em  local  de  trabalho  é  todo  e  qualquer  ato  abusivo  manifestado  através  de comportamentos, palavras, gestos, escritos, que possam trazer danos à personalidade, à identidade  ou  à  integridade  física  e  psíquica  da  pessoa,  colocando  o  seu  trabalho  em risco e destruindo o ambiente de trabalho.

 O assédio  no  local  de  trabalho  é  uma  conduta  muito  antiga,  mas  só  passou  a  ser identificado  como  um  fenômeno  destruidor  do  ambiente  de  trabalho,  que  atrapalha  a produtividade e causa o absenteísmo, no começo dessa  década. De acordo com Hirigoyen (2002), Heinz Leymann, pesquisador em psicologia do trabalho, que  trabalha  na  Suécia,  há  dez  anos  atrás  fez  uma  pesquisa  entre  diferentes  grupos profissionais sobre esse fenômeno e o qualificou de "psicoterror".

O assédio no local de trabalho  engloba dois fenômenos, que são: o abuso de poder e a manipulação perversa.  Esta  instala  insidiosamente.  As  vítimas  num  primeiro  momento procuram  não  demonstrar  o  sentimento  de  ofensa  causado  por  desavenças  ou  maus-tratos.  Só  que  essas  condutas  contra  elas  vão  aumentando  e  a  vítima  vai  se  sentindo acuada  e  em  situação  de  inferioridade.  Esse  processo  faz  com  que  ela  volte  para  casa diariamente humilhada, exausta e deprimida. Ela vai perdendo uma parte de si mesmo/a.

Em todo o grupo existem desavenças e agressões verbais em momentos de estresse ou de mau humor, mas quando o agressor se acalma, acaba pedindo desculpas ao colega de trabalho.  Só  que  na  manipulação  perversa  as  agressões  e  humilhações  não  são reconhecidas pelo agressor, tornando o fenômeno destruidor para o agredido.

Aqueles que presenciam a conduta injusta  não se  manifestam, seja por preguiça, medo (adotando  estratégias  coletivas  de  defesa  ou  individuais)  ou  egoísmo.  O  processo  de manipulação  perversa  só  tende  a  crescer  se  ninguém  intervier  de  forma  incisiva imediatamente. Num momento de crise acentua-se o que se é. Assim, se uma empresa é rígida,  torna-se  mais  rígida,  se  um  empregado  é  depressivo,  torna-se  mais  depressivo, um  agressivo  torna-se  mais  agressivo  e  assim  por  diante.  Uma  situação  de  crise  pode levar o indivíduo a dar o melhor de si para encontrar uma solução, mas uma situação de violência faz com que a vítima mostre o pior de si, pois tende a anestesiá-la. 

O  agressor  procura  desencadear  ansiedade  na  vítima,  que  faz  com  que  ela  tenha comportamentos  defensivos,  desencadeando  novas  agressões.  Isso  acaba  gerando sentimentos de fobias recíprocas, a vítima ao ver o agressor sente medo e ele sente uma raiva  fria.  São  reflexos  condicionados.  O  agredido  acaba  tendo  comportamentos patológicos  que  acabam  servindo  de  desculpas  para  justificar  as  agressões.  O  objetivo desse fenômeno é transtornar a vítima, levando-a a cometer erros.

Quando  a  agressão  é  entre  colegas,  a  empresa  tende  a  fingir  que  não  vê  ou,  às  vezes, nem  toma  consciência  do  problema,  a  não  ser  que  a  vítima  reaja  de  forma  ostensiva (chorando ou faltando muito ao trabalho). A empresa acaba não querendo se intrometer e  a  vítima  se  sente  abandonada.  Ela  também  se  sente  enganada  por  aqueles  que presenciam  a  agressão  e  não  intervêm.  Quando  se  propõe  uma  solução,  muitas  vezes, vai  contra  a  vontade  da  vítima,  sendo  a  sua  transferência  para  outro  posto  a  mais comum. Na maioria das vezes, as vítimas não são portadoras de patologias, são pessoas que  resistem  às  agressões,  não  se  deixando  subjugar.  É  isso  que  acaba  levando-as  a tornarem-se  alvos  dos  agressores.  Normalmente  elas  são  pessoas  escrupulosas, perfeccionistas, muito dedicadas ao trabalho.

O  perverso  desvaloriza  a  vítima  e  a  sua  atitude  acaba  recebendo  o  apoio  do  resto  do grupo. Isso ajuda a justificar o comportamento do agressor, levando todos a pensar que o agredido merece o que está lhe acontecendo.
Durante  o  processo  de  assédio  a  vítima  é  estigmatizada,  atribuindo-se  à  sua personalidade o comportamento que na  verdade é decorrente  do conflito. Esquece-se o que  ela  era  antes  ou  como  ela  é  em  outro  contexto.  A  pessoa  que  é  acossada  dessa maneira não consegue exercer o seu trabalho direito, tornando-se menos eficiente. Fica fácil demiti-la por incompetência profissional ou por erro.

De acordo com Hirigoyen:
 "O  comportamento  de  um  grupo  não  é  a  soma  dos  comportamentos  dos indivíduos  que  o  compõem:  o  grupo  é  uma  entidade  nova,  que  tem comportamentos  próprios.  Freud  admite  a  dissolução  das  individualidades  na multidão  e  nela  vê  uma  dupla  identificação:  horizontal,  em  relação  à  horda  (o grupo), e vertical, em relação ao chefe." (Hirigoyen, 2002, pág. 69)

Os  grupos  têm  uma  tendência  a  nivelar  os  seus  integrantes  e  têm  dificuldade  de conviver com as diferenças. Como exemplos, há a dificuldade de uma mulher ser aceita em  um  grupo  de  homens,  de  um  homem  ser  aceito  em  um  grupo  de  mulheres,  de  um grupo de heterossexuais aceitar a homossexualidade, ou de um grupo aceitar a diferença racial, religiosa ou social.

 O  assédio  também pode  ser  acarretado por  sentimentos  de  inveja,  quando  alguém  tem algo que os outros não têm, como beleza,  juventude, riqueza, relações influentes e etc. Empregados  que  são  mais  qualificados  que  os  seus  superiores  hierárquicos  também podem despertar o  assédio dos  mesmos.  Inimizades  pessoais  também  podem despertar esse fenômeno.

O assédio praticado por superior contra o seu subordinado é o mais comum. Isso ocorre muito  no  contexto  atual,  em  que  os  assalariados  acreditam  que  para  manterem  seus empregos devem aceitar tudo.

Primeiro  procura-se  tirar  o  senso  crítico  do  subordinado,  até  que  ele  não  tenha  mais discernimento  para  distinguir  quem  está  com  a  razão.  Ele  é  pressionado,  criticado  e vigiado constantemente por seu superior, para que se sinta sem saber como agir, além de não  receber  informações  que  lhe  permitam  compreender  o  que  acontece  em  seu trabalho. Esse processo é acentuado pelo grupo, que se torna testemunha ou até passa a participar ativamente desse "psicoterror".

O agressor se recusa  a mencionar ou discutir o conflito, impedindo que seja dada uma solução. Não debater a questão é uma forma de dizer ao outro que ele não lhe interessa, ou que  sequer existe.  Como  nada  é  dito,  o  subordinado pode  ser  incriminado de  tudo. Esse  quadro  torna-se  mais  grave  quando  a  vítima  tem  a  tendência  de  culpar-se, pensando:  "O  que  foi  que  eu  fiz  a  ele?  O  que  é  que  ele  tem  a  censurar  em  mim?"  As censuras são vagas ou imprecisas, dando margem a diversas interpretações por parte da vítima. Isso seria uma forma de comunicação perversa, que procura impedir o outro de pensar,  compreender  e  reagir.  Muitas  vezes,  os  agressores  usam  discursos  paradoxais para evitarem réplicas, como: "Minha querida, eu gosto muito de você, mas você é uma nulidade!".

As  desqualificações  se  dão  indiretamente,  para  que  não  possibilitem  contestações  elas são  praticadas  de  maneira  não-verbal,  através  de  suspiros,  de  erguer  os  ombros,  de olhares de desprezo, silêncios, subentendidos como observações desabonadoras. Assim, pode-se  levantar  a  dúvida  sobre  a  competência  do profissional.  A  vítima  fica  confusa sobre  o  que  está  acontecendo,  sem  saber  se  está  exagerando.  Quando  ela  tem  pouca autoconfiança, a perderá de vez e desistirá de defender-se.  

A  desqualificação  também  pode  ocorrer  através  da  evitação  de  troca  de  olhares,  de cumprimentos,  de  negação  da  presença  da  vítima,  não  lhe  dirigindo  a  palavra  ou aproveitando a sua ausência para lhe fazer pedidos através de bilhetes, ao invés de pedir pessoalmente. Podem ser feitas também críticas indiretas, dissimuladas em brincadeiras, sarcasmo,  fazendo  um  comentário  pervertido  no  final:  "Ah,  isso  é  uma  brincadeira, ninguém vai morrer por causa de uma brincadeira!".

Uma  outra  forma  de  destruir  psicologicamente  um  empregado  é  isolá-lo  do  resto  do grupo,  impedindo  que  ele  faça  alianças.  Porque  quando  uma  pessoa  está  sozinha  fica difícil reagir. Quando essa iniciativa vem dos colegas, implica em não convidar a vítima para almoçar, para sair para beber após o expediente, etc. Quando vem dos superiores, consiste  em  não  passar  as  informações  necessárias  para  que  o  trabalhador  fique  por dentro  do  que  está  se  passando  no  trabalho,  em  não  chamá-lo  para  participar  das reuniões. Depois a  vítima  é deixada de  lado e não lhe passam  nada para fazer, mesmo que os seus colegas estejam sobrecarregados, tornando-a desnecessária. Dessa forma, os dirigentes se utilizam desse processo para demitir a vítima.

O  processo  de  assédio  também  pode  se  dar  através  da  vexação.  Por  exemplo,  um trabalhador  muito  qualificado  pode  ser  colocado  num  cargo  bem  abaixo  do  seu  nível intelectual,  ainda  por  cima  com  péssimas  condições  de  trabalho,  como  ter  que  ficar colando selos em um local mal-ventilado. Podem também ser passadas tarefas urgentes, quase  que  impossíveis  de  serem  cumpridas,  obrigando  o  funcionário  a  permanecer  no trabalho até depois do expediente, a trabalhar nos fins de semana, para no final ter esse trabalho tão urgente jogado no lixo. Também, podem ocorrer agressões físicas indiretas, através de negligências, como pedir para a vítima ou para outra pessoa carregar objetos pesados que caiam, "por acaso", sobre os pés da vítima.

O  agressor  também  pode  induzir  a  vítima  a  ter  um  comportamento  inadequado,  como menosprezar  ou  provocar  uma  pessoa  impulsiva  levando-a  a  ter  um  comportamento agressivo,  para  depois  falar:  "Vocês  viram,  esta  pessoa  é  completamente  louca!  Ela atrapalha o serviço.".
A  sobrecarga  de  estresse  pode desencadear erros ou levar o empregado a adoecer físicamente ou psíquicamente, tendo que tirar licença para tratar da sua saúde.

O  indivíduo  perverso,  quando  entra  em  um  grupo,  tende  a  reunir  em  volta  de  si  as pessoas  mais  dóceis,  seduzindo-as.  Aquele  que  resiste  à  sua  sedução  é  excluído  do grupo, passando  a  ser  o bode  expiatório.  Dessa  forma,  o  grupo  cria  um  vínculo  social sob  a  influência  do  indivíduo  perverso  e  a  pessoa  isolada  passa  a  sofrer  críticas  dos mesmos, através de ironias. O grupo fica sob influência do perverso, imitando-o em sua falta de respeito e  em seu cinismo. De acordo com Hirigoyen, eles  não perdem todo o seu  senso  moral,  mas  ao  tornarem-se  dependentes  de  um  indivíduo  sem  escrúpulos, perdem o senso crítico.

 Realmente existem indivíduos que sentem necessidade de uma autoridade superior para chegarem  a  um  equilíbrio.  Os  perversos  se  aproveitam  da  docilidade  dessas  pessoas para causar sofrimento aos outros.

A  finalidade  de  uma  pessoa  perversa  é  atingir  o  poder,  não  importa  de  que  forma,  ou mascarar  a  própria  incompetência.  Para  isso,  ele  precisa  se  livrar  de  todo  aquele  que represente um obstáculo à sua ascensão. Ele cria uma fragilidade no outro, para impedi-lo de se defender.

O  medo  gera  submissão  na  vítima  da  agressão  e  também  nos  seus  colegas,  que presenciam  a  cena  injusta,  permitindo  que  ela  aconteça.  Isso  é  o  que  ocorre  no  atual contexto individualista do "cada um por si". As pessoas têm dificuldade em reagir, com medo  de  serem  demitidas  ou  de  virem  a  ser  estigmatizadas.  Nesse  sistema  de concorrência  desenfreada  a  frieza  e  a  dureza  tornam-se  normas.  Para  continuarem empregados, os trabalhadores precisam “vestir a camisa da empresa” e não se comportar de forma muito diferente dos outros.

Quanto  mais  desorganizada,  mal-estruturada,  ou  depressiva  for  a  empresa,  melhor  o perverso vai agir. Será mais fácil ele achar uma brecha para agir e ampliá-la. A técnica é sempre  a  mesma:  ele  se  aproveita  das  fraquezas  do  outro,  fazendo-o  duvidar  de  si mesmo,  tornando-o  incapaz  de  defender-se.  O  agressor  vai  agindo  insidiosamente, podendo  levar  a  vítima  a  dar  razão  a  ele,  pensando:  "Eu  sou  nulo,  eu  não  consigo,  eu não estou à altura!". A destruição se dá de maneira muito sutil.

De acordo com Hirigoyen: 
 "Dar  queixa  é  o  único  meio  de  acabar  com  esse  psicoterror.  Mas  é  preciso  ter coragem, ou ter chegado realmente a uma situação-limite, pois isso implica em uma  ruptura  definitiva  com  a  empresa.  Além  disso,  não  há  certeza  de  que  a queixa  será  acolhida,  nem  que  o  processo  desencadeado  venha  a  ter  um resultado positivo." (Hirigoyen, 2002, pág. 93)

Quando  os  sintomas  do  estresse  aparecem,  como  insônia,  cansaço  e  irritabilidade, muitas  vezes  os  assalariados  não  aceitam  a  licença  de  trabalho  proposta  por  seus médicos com medo de sofrerem represálias quando voltarem.  

Apesar de hoje existirem os Diretores de Recursos Humanos, ainda não é tão valorizado o fator humano nas empresas e a dimensão psicológica das relações de trabalho.

Então,  cabe  aos  que  têm  poder  de  decisão,  como  os  dirigentes  das  empresas,  os coordenadores, os executivos e etc, recusar a prática do assédio nas empresas, prezando o  respeito  entre  os  empregados,  ou  seja,  à  pessoa  humana.  Os  sindicatos  deveriam colocar entre seus objetivos uma proteção maior contra o assédio moral praticado contra a pessoa do trabalhador. O assédio não deve ser banalizado por nossa sociedade. Ele não é  uma  conseqüência  da  crise  econômica,  mas  é  uma  grande  restrição  do  senso  moral dentro do ambiente de trabalho.

Fonte: Monografia de final do curso de psicologia da PUC-Rio 
As  conseqüências  psicossomáticas  das  relações  de  trabalho  na  sociedade contemporânea
Fernanda Fragelli Penna Chaves
Rio de Janeiro, novembro de 2006

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